Pesquisadores desenvolvem método eficiente para extrair compostos de casca de jabuticaba

Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de Cádiz (UCA), na Espanha, desenvolveram um novo método eficaz para extrair compostos químicos de alto valor agregado a partir das cascas de jabuticaba (Plinia cauliflora). Detalhado em um artigo publicado no Journal of Food Composition and Analysis, o método simplifica o processo de extração e aumenta sua eficiência, representando um avanço significativo na área.

O estudo concentrou-se na otimização da extração de antocianina, um poderoso antioxidante encontrado em frutas como jabuticaba, morango, amora e framboesa. Além de suas propriedades anti-inflamatórias, a antocianina é um corante natural responsável pelas cores vermelha, azul e violeta dessas frutas. O objetivo dos pesquisadores era maximizar a extração e purificação simultâneas de antocianinas derivadas da casca de jabuticaba, um resíduo lignocelulósico.

Tânia Forster-Carneiro, professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e uma das autoras do estudo, explicou que a equipe ajustou meticulosamente os parâmetros de extração, como tempo, temperatura e composição do solvente, para obter os melhores resultados. As condições otimizadas incluíram 40 minutos de extração por maceração a 60°C com 50% de metanol (MeOH). Após a otimização, o estudo incorporou uma etapa de purificação utilizando um material desenvolvido a partir do próprio resíduo da jabuticaba, conhecido como biossorvente. Esse biossorvente age como uma esponja seletiva que absorve determinadas substâncias de uma mistura, deixando outras passarem.

Forster-Carneiro destacou que, embora existam relatos na literatura sobre catalisadores de platina dopados com bismuto, este trabalho demonstra especificamente a seletividade na oxidação de glicerol. Os resultados mostraram que, embora a dopagem com bismuto não aumente a atividade na oxidação de polióis como o glicerol, a técnica pode ser crucial para direcionar a formação de compostos específicos, transformando produtos de baixo valor provenientes da biomassa em compostos de maior valor agregado.

O biossorvente desenvolvido a partir da casca de jabuticaba demonstrou uma eficiência superior a 90% na purificação das antocianinas, superando o desempenho do adsorvente comercial (PoraPak™ Rxn) utilizado para comparação. O método também alcançou uma classificação "EcoScale" de 86 em 100, uma métrica semiquantitativa que avalia as condições de reação química em escala de laboratório. Para comparação, outros nove métodos descritos na literatura apresentaram classificações EcoScale variando de 33,95 a 73,6, com média de 51,79.

A pesquisa foi conduzida por Tânia Forster-Carneiro, juntamente com Tiago Linhares Cruz Tabosa Barroso, Luiz Eduardo Nochi Castro e Leonardo M. de Souza Mesquita, além dos professores Mauricio Ariel Rostagno e Forster-Carneiro. A equipe também contou com a colaboração dos professores Gerardo Fernández Barbero e Ceferino Carrera, da Universidade de Cádiz, que supervisionaram Barroso durante seu estágio de pesquisa financiado pela FAPESP.

Forster-Carneiro enfatizou que, embora mais pesquisas sejam necessárias para adaptar este método para uma escala industrial, os resultados representam um avanço significativo na área de bioengenharia e biotecnologia. A pesquisa recebeu apoio da FAPESP através de diversos projetos.

 

Fonte: https://agencia.fapesp.br/novo-metodo-otimiza-extracao-de-antioxidante-e-corante-da-casca-de-jabuticaba/52021

O artigo Simple procedure for the simultaneous extraction and purification of anthocyanins using a jabuticaba byproduct biosorbent, pode ser lido aqui: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0889157524002151.